terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Este blog pretende apresentar o pintor Pieter Bruegel, "O Velho", a sua obra e, em especial, o seu quadro "O Triunfo da Morte".
Assim, apresenta-se primeiro uma breve biografia do Autor e uma nota sobre a sua inspiração, temas e técnicas.
Segue-se uma lista de algumas das suas obras mais célebres e, por fim, uma análise mais detalhada de "O Triunfo da Morte".


Desenho de Bruegel, "O Pintor e o Colecionador" (1565): o pintor é presumivelmente um autorretrato.

Pieter Bruegel, "O Velho", nascido em Breda (1525-1530?) foi um célebre pintor flamengo (do então Ducado de Brabante) do século XVI. Foi ainda escultor, arquiteto, decorador de tapeçarias e de vitrais.
Ficou conhecido como "O Velho", para se distinguir do seu filho mais velho, com o mesmo nome, e foi o primeiro de uma família de pintores, começada por si e continuada pelos seus filhos, ambos pintores, Pieter e Jan.
É também conhecido como Bruegel, "O camponês", supostamente por ter o hábito de se vestir como tal, a fim de se disfarçar no meio da população, em casamentos e outras festas, para se inspirar nas suas criações.

Assinou como Brueghel até ao ano de 1559 mas a partir daí retirou o "h" do apelido, o que viria a acontecer também com seus filhos.

Foi admitido como mestre na guilda de São Lucas, com 26 anos, em 1551, e como aprendiz de Coecke Van Aelst, artista de Antuérpia, com cuja filha Mayken viria a casar, em 1563.
Ainda antes, logo em 1552, viajou para Itália, onde aprendeu com os pintores renascentistas e realizou bastantes pinturas, a maior parte das quais representando paisagens. A sua primeira obra assinada foi pintada em Roma, em 1553.
Nesse mesmo ano, fixou-se em Antuérpia e dez anos mais tarde  mudou a sua residência para Bruxelas, onde viveu até à sua morte, em 1569.

Bruegel foi um percursor no campo da pintura não só devido aos seus temas invulgares mas também a técnicas ainda pouco difundidas na época ou utilizadas de forma inovadora: entre as quais a perspetiva, a disposição das cores, a pintura a óleo, o realismo nos temas e na representação.


Além da sua predileção por cenas religiosas e por paisagens (como veremos de seguida), Bruegel pintou obras em que realçava o absurdo, apresentando a fraqueza e a loucura humana, como nos quadros que são apresentados: "Provérbios Holandeses", "A Torre de Babel", "Jogos Infantis".




"Dull Grief" (1562)

A influência mais óbvia na sua obra é a de  Hieronymus Bosch, em especial nos quadros "Triunfo da Morte" e "Dulle Griet" (geralmente traduzida para a língua inglesa como "Mad Meg").


A luta entre o Carnaval e a Quaresma - Pieter Bruegel o Velho

Utilizando a sátira, pintou algumas obras de protesto social. É exemplo esta obra, "A luta entre Carnaval e Quaresma" (de 1559), uma sátira dos conflitos da época da Reforma Protestante.

Bruegel foi um grande pintor dos meses e estações do ano e pintou diversos quadros com paisagens campestres, cenas populares e multidões.
É muitas vezes considerado como o primeiro pintor ocidental a pintar paisagens como elemento central e não como um mero pano de fundo histórico ou cenário de uma pintura.
Retratava a vida e costumes dos camponeses, a sua terra, os rituais da vida na aldeia: agricultura, caça, refeições, festas, danças e jogos.

Peter Bruegel, A Ceifa do Feno, c. 1565

"A Ceifa" ou "Os Ceifeiros" (1565)

Pieter-Bruegel-The-Elder-The-Gloomy-Day

"O Dia Sombrio" (1565)

Caçadores na neve´

"Caçadores na Neve" (1565)

"A Dança de Camponeses (1568)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Uma das obras mais emblemáticas de Bruegel é "Casamento de Camponeses", um óleo sobre madeira de cerca de 1568.

Casamento

Este quadro representa uma festa ou boda de casamento de dois camponeses. Os convidados embriagados são o oposto do ideal de perfeição e moderação, ou seja, a cena baseia-se na observação da vida quotidiana, real e humana. Tal como referido anteriormente, consta que o pintor se disfarçava para observar os convívios dos camponeses.
A sua técnica na aplicação de finas camadas de tinta revela uma extraordinária riqueza e variedade de cores, muito evidente nesta obra.
 
Esta obra, de 1559, "Provérbios Holandeses", óleo sobre madeira, é uma das mais conhecidas de Bruegel.

pieter-bruegel-the-elder_netherlandish-proverbs_

A obra ilustra  mais de uma centena de provérbios e expressões holandeses, retratadas com muito pormenor. O quadro tem um sentido moralista, criticando certos comportamentos, reprovados na época. Eis apenas alguns exemplos:
Um homem de chapéu vermelho, ajoelhado com duas velas na mão, acende uma vela a Deus e outra ao diabo; um homem que dá rosas aos porcos (com correspondência à expressão portuguesa "atirar pérolas a porcos"); um homem traz um caldeirão nos braços, tentando iluminar o dia (ou seja, age inutilmente); um homem com roupa vermelha deita fora cartas de jogar (simboliza que os tolos desperdiçam as melhores oportunidades).
 
A "Torre de Babel", de 1563 é um óleo sobre tela e um dos mais célebres quadros do Autor.

Brueghel-tower-of-babel

A obra foi elaborada com um nível de detalhe impressionante e demonstra um bom conhecimento das técnicas usadas na arquitetura, nomeadamente os mecanismos utilizados. Porém, a conceção da Torre contém alguns erros óbvios, que podem ser interpretados quer como falhas do Autor, quer como uma alusão à História da Torre bíblica, nunca terminada devido à confusão criada pela diversidade de línguas.
Pintada em 1560"Jogos Infantis", óleo sobre tela, representando crianças a brincar, é outra obra emblemática.

brincadeiras-bruegel

As crianças no quadro são representadas como pequenos adultos, como era comum no Renascimento, e é possível que a obra represente uma crítica às pessoas (adultas) que se dedicavam a uma vida frívola.

O TRIUNFO DA MORTE de PIETER BRUEGEL





Esta obra, terminada em 1562, é um óleo sobre tela.
O tema - a MORTE - é omnipresente: numa paisagem desolada, em que ao longe se veem forcas, a morte e o seu exército seguem caminho levando consigo todas as personagens.
Apesar da paisagem sombria, destacam-se vários elementos de cores quentes (sobretudo vermelho e laranja), que tornam o quadro menos escuro e mais atraente.
Da Morte, ninguém consegue escapar, seja rico ou pobre, novo ou velho.
No canto inferior esquerdo, consegue ver-se um rei que, apesar de todo o seu poder e riqueza, não pode evitar a morte.
No canto inferior direito, em volta de uma mesa, estão pessoas a comer e a jogar; representam os astutos e os ricos, os últimos a ser levados pela morte mas que serão também arrastados.
Alguns homens armados tentam resistir ao exército da Morte mas essa resistência é também infrutífera.
Nas ruínas encostadas ao lado esquerdo do quadro, vê-se um esqueleto que retira os ponteiros a um relógio, simbolizando que, para os que vão morrer, o tempo acabou.
Por trás de trincheiras, estão centenas de esqueletos, significando que o exército da morte está sempre a crescer. Essa ideia é reforçada pelo facto dos ainda vivos serem empurrados para um enorme túnel, semelhante a um caixão, parecendo que também eles, ao morrer, vão engrossar as fileiras da Morte.
O quadro foi pintado numa época de enorme instabilidade, guerras políticas e religiosas, doenças e epidemias e grandes fomes.

Na minha opinião, apesar de não ser o quadro melhor concebido ou aquele que melhor representa o estilo de Bruegel, é uma obra curiosa por ser simultaneamente simbólica (no tema e personagens escolhidos) e realista (no pormenor das figuras e da paisagem).
Penso que é um quadro com uma mensagem interessante e que é muito divertido.